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27
junho
2019

Jair Mendes e Vandir Santos: mestres da arena com vigor de estreantes

JOÃO GUSTAVO MELO

O Festival de Parintins tem vários mestres. Mas todos esses artistas têm um grande professor, o decano Jair Mendes. Aos 77 anos, ele recebeu a reportagem da Rádio Arquibancada apresentando sua alegoria para 2019 com entusiasmo de quem vai mostrar sua criação pela primeira vez.

Seu Jair, pai artístico e biológico de vários artistas que brilharam no Carnaval carioca, entre eles Jairiznho Mendes, Teco Mendes e Juarez Lima,  conta que a primeira vez que levou uma alegoria para arena foi em 1978, quando desevolveu uma cobra em movimento para o boi Garantido, época em que nem se imaginava que os bois alcançariam tanta projeção como nos dias atuais.

Depois dessa inovação, o Festival nunca mais foi o mesmo. As alegorias passaram a ser uma das atrações da peleja entre os bois, com soluções criativas para movimentos complexos. Seu Jair conta que a inspiração veio de longe. “Eu fui à concentração das escolas de samba do Rio de Janeiro em 1970 e vi que eu podia fazer algo aqui em Parintins. Aqui não tinha Carnaval, mas tinha boi. Então eu passei a fazer alegorias pro Garantido. Só que aqui a gente fez com movimento, algo que não tinha muito no Carnaval. Nos anos 90, fui para o Caprichoso, mas depois voltei para o Garantido. Em 2002, tive a honra de fazer a águia da Portela, no enredo sobre a Amazônia, com o Alexandre Louzada”, orgulha-se o mestre, que ficou viúvo há apenas quatro meses e que encontra no trabalho uma maneira de distrair a mente e aliviar a saudade da mulher, dona Ana. “Aqui não é um trabalho pra mim. É minha diversão. O mundo, os problemas, ficam lá do lado de fora e eu me concentro nisso aqui”, diz, apontando para as peças enormes espalhadas pelo galpão do boi vermelho.  

Para ajudar no desafio de fazer uma alegoria grandiosa para a celebração folclórica da última noite de apresentada do Boi Vermelho, seu Jair conta com uma participação mais que especial. Depois de 40 anos, volta a  dividir a confecção da alegoria com o seu primeiro discípulo, Vandir Santos, hoje com sessenta anos de idade. Seu Vandir, que já esteve no Carnaval do Rio, trabalhando na Paraíso do Tuiuti em 2016, também está entusiasmado com o resultado e com a atenção que tem recebido dos demais artistas no galpão. “Muita gente tem nos ajudado. Estamos na fase de finalização, faltando apenas detalhes de acabamento. As pessoas vão se surpreender na arena com os movimentos da alegoria”, afirma, do alto da experiência de quem já viveu muitas emoções no festival, e que em 2019 vai brindar o público com mais uma criação digna da grandiosidade e engenhosidade artística dos mestres do fazer popular.

CELBRAÇÃO FOLCLÓRICA – Seu Jair e seu Vandir elaboraram um gigantesco cenário para a celebração folclórica, representando uma tradicional vaqueirada, tendo vários bois em movimento. A altura máxima chegará a 19 metros, com algumas surpresas que eles não revelam. “Na hora você vai ver”, disse seu Jair, não escondendo o orgulho e a expectativa com mais uma criação para encantar os que irão conferir a apresentação do Boi Garantido na noite de 30 de junho. Uma celebração feita pelas mãos de dois grandes artistas, pais de um ofício que se espalhou pela ilha e que a cada mês de junho volta a encantar até mesmo quem já acompanhou muitos festivais, como se fosse a primeira vez.

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