Uma terça diferente

RACHEL VALENÇA

“É hoje só, amanhã não tem mais”. Essas tristes palavras eram gritadas em coro no final dos bailinhos de Terça-feira Gorda, na minha adolescência. Na vida adulta não houve mais bailes, as escolas de samba tomaram de assalto meus carnavais. Mas o grito de nostalgia ficou impresso pra sempre na memória.

Não tem mais? Cumpre aproveitar até o último momento. Daí veio a promessa: nunca deixar de ver raiar a Quarta-feira de Cinzas no pleno exercício daquilo que mais amo. O cansaço, depois de quatro dias de folia (que começa na sexta), pesa mais a cada ano. Há dois anos decretei que aquele desfile com a Unidos do Jacarezinho, na Intendente Magalhães, seria o último. Na Terça-feira, agora, só assistir e me inebriar com a festa do povo.

Neste estranho Carnaval de 2021, a Terça-feira é magra. Não há cansaço, não há como cumprir a promessa, não há expectativa de apuração. Falta cerca de uma ano para o próximo carnaval, mas já temos enredos anunciados, temos sambas escolhidas, temos, portanto, um grande vazio pela frente.

Vamos aproveitar para nos refazermos desse luto que estamos vivendo. Tomara que possamos logo nos livrar dos pesadelos que nos assombram: a pandemia, a ignorância, a falta de empatia, a cegueira política, o preconceito, o abandono da cultura popular.

Que o ciclo que se inicia amanhã – pra os sambistas o ano novo começa depois do Carnaval – possa trazer a cura em seu sentido mais amplo, redimindo sambistas e não sambistas.

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