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Até breve, Sapucaí!
ANDERSON BALTAR
Sexta-feira de Carnaval. A rigor, este dia não existe no calendário oficial. Na vida real de quem ama a folia, é dia – e muito dia de folia. Se tudo estivesse dentro da normalidade, estaríamos, nesse momento, dando início à nossa deliciosa maratona de noites insones, ansiedade, alegria, desvario, sonhos, risos e choros.
Passei pela Sapucaí no ínicio desta tarde a caminho de um compromisso – um dos raros a que me permito a ter na rua nestes tempos de pandemia. No banco traseiro do Uber, vejo que o GPS indica o caminho do carro por aquele trecho onde moro durante os dias de folia: exatamente em frente ao Setor 1, de onde, há 10 anos, realizo o meu sonho de menino de transmitir o Carnaval por rádio. O carro vira a esquina, que tão carinhosamente chamamos de “joelho” e para no sinal de trânsito, bem em frente ao primeiro recuo da bateria. Me segurando para não chorar, coloco o celular para fora e faço a foto que ilustra este texto.
O sinal abre, a garganta seca, o peito aperta. Respiro fundo e sigo meu caminho. Posto a foto nas minhas redes sociais e entro numa viagem por momentos que a sexta-feira de Carnaval me proporcionou ao longo dos meus 45 anos de vida. De cara, me veio à mente a energia diferente que a gente sente no ar, assim que abrimos os olhos em todas as sextas-feiras de Carnaval. Viajo até minha infância e me lembro de, aos 8 anos de idade, estar no meu quarto em um apartamento da Ilha do Governador vendo a inauguração do Sambódromo pela TV por horas a fio – até onde o sono suportou – com o desfile do então Grupo 1B pela saudosa TV Manchete.
Por alguns anos, sexta-feira de Carnaval era também sinônimo de estresse. Tudo por conta dos intermináveis engarrafamentos para a Região dos Lagos, destino que meu pai sempre escolhia para “fugir”da folia. Emburrado nos congestionamentos que duravam seis horas, entre garrafas d´água e mariolas, o menino sonhava com o dia em que a Sapucaí seria o seu refúgio, o seu local de felicidade.
Esse dia chegou. E, a partir daí a sexta-feira virou o dia do sufoco. Dia de ajeitar os últimos detalhes da bolsa térmica para levar pra arquibancada ou frisa. Dia de pegar camisa no barracão. Dia de acompanhar a saída de carros alegóricos, nos saudosos tempos de assessor da União da Ilha. Dia de acompanhar as escolas mirins e de repassar detalhes das transmissões de TV. Dia de abrir as transmissões da Rádio Arquibancada e sentir, todo ano, aquele frio na barriga em ver a Sapucaí lotada. Nos últimos dois anos, dia de acordar cedo e pegar um avião para cobrir os desfiles no Anhembi, num novo doce desafio que a carreira me trouxe.
Esta sexta-feira que vivemos é esquisita demais. Não tem carro alegórico na Presidente Vargas, não tem chuva de papel picado caindo dos prédios comerciais, não tem gente bebendo nos botecos com adereços e chapéus, realizando o melhor “sextou” do ano. A cidade está esquisita. Foi o que senti quando peguei o Uber da volta. Os bares tentam manter a animação tocando sambas e marchinhas. As pessoas conversam, bebem, flertam. Mas muita coisa está fora do lugar.
Que esta sexta-feira que vivemos seja única em sua tristeza e vazio. Isso tudo vai passar. No dia 26 de fevereiro de 2022 temos um encontro marcado. Até breve, Sapucaí!
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