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27
setembro
2016

O legado de Falcon

ANDERSON BALTAR

anderson-baltarO mundo do Carnaval está em estado de choque desde a tarde dessa segunda, quando, aos 52 anos, o presidente da Portela, Marcos Falcon, foi assassinado em seu comitê de campanha, em Oswaldo Cruz. Candidato a vereador, Falcon estava na reta final de uma campanha envolta em muito otimismo. Afinal, após liderar a reconstrução da azul e branca, parecia que uma eleição para o legislativo municipal seria a coroação de um trabalho vitorioso que teve inicio há alguns anos.

Me lembro como se fosse hoje do entusiasmo de velhos amigos, de muitas batalhas pelo samba e pelo Carnaval, pelo projeto de reabilitação da Portela, à época em baixa. Em comum a todos eles, que se congregavam no grupo Portela Web, o sonho de ver a maior campeã de nossa folia voltar aos dias de glória em que vencer era apenas “uma banalidade”. O desejo antigo de muitas pessoas encontrou em Marcos Falcon o catalisador perfeito. O elemento aglutinador de uma comunidade imensa e sofrida com vários resultados ruins e desfiles melancólicos. Juntaram-se os segmentos da escola, as torcidas organizadas e internautas de todo o Brasil e várias partes do mundo. O resultado foi a chapa Portela Verdade e uma emocionante vitória na eleição de 2013. Jamais me esquecerei da cena que presenciei: após o resultado apertado (por apenas 3 votos), o Portelão foi invadido por uma multidão eufórica e ébria de felicidade. Foi a Primavera Portelense, a queda da Bastilha do poder então constituído e que parecia eterno, mas que havia sido derrotado pela esperança.

Esperança que só se renovou nos últimos anos.  Com pitadas de ousadia combinada com toda a tradição portelense. Falcon não teve medo de arriscar para buscar a vitória. Como legado, um grande Carnaval em 2014 que bateu na trave; um não tão bom no ano seguinte, mas que nos deixou uma das maiores imagens da história do Sambódromo: a águia redentora; e, para finalizar, um desfile fantástico em 2016, sob a batuta de Paulo Barros, que perdeu o campeonato para a Mangueira no photochart. Me recordo de ter encontrado Falcon na concentração do Desfile das Campeãs. Ao contrário dos anos anteriores, quando até fez um drone voar dentro da cabine da Rádio Arquibancada, ele estava triste. Inconformado com a derrota, chegara a sentir febre e quase não desfilara. Mas, como bom comandante, reuniu forças de onde não tinha para levar o exército portelense à sua obrigação: a aclamação do povo.

Recentemente, quase trabalhei com ele. Fui convidado a fazer a assessoria de imprensa de sua campanha a vereador. Porém, problemas pessoais me impediram. Neste breve convívio, pude verificar o quanto ele era apaixonado pela comunidade portelense e como o projeto “Portela dá Trabalho” contava com seu empenho e era motivo de seu orgulho. Como dirigente, apesar do jeito durão, Falcon era idolatrado pela comunidade e, como uma de suas maiores virtudes, sempre apresentou um carinho especial pelos baluartes e um respeito imenso pela história da escola. Em julho, presenciei sua felicidade ao inaugurar o busto de Monarco na quadra da escola.

A última vez em que estive com ele foi no dia da entrega de sambas da Portela. Ao sair da quadra, demonstrou preocupação com o meu retorno e o de Chico Frota. Fez questão de saber como voltaríamos para casa e se precisaríamos de algo. Essa recordação eu sempre guardarei comigo.

O que será da Portela sem Falcon? Tenho certeza de que continuará a ser esse gigante do nosso Carnaval. Está baqueada, mas logo se encontrará. As sementes da organização e da reconstrução portelense já estão plantadas e gerando frutos. Tenho certeza de que os amigos portelenses, sob a inspiração da fidalguia do presidente Luis Carlos Magalhães, darão sequência a essa missão. Abraçados aos baluartes e grandes sambistas que dão vida àquele solo sagrado do samba, levarão a águia ao voo mais alto. Do alto do panteão dos grandes líderes portelenses, ao lado de Paulo da Portela e Natal, Falcon estará aplaudindo e vibrando.

 

 

 

 

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