Viradouro quer ficar entre as 6

ANDERSON BALTAR

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Foto: Felipe Araújo

A pouco menos de um mês para o carnaval, o presidente da Viradouro, Gusttavo Clarão, é só otimismo. Feliz com o processo de preparação da escola de Niterói para o desfile que marca sua volta ao Grupo Especial após quatro anos de ausência, Gusttavo acredita que a escola está pronta não só para ficar no grupo, mas para brigar pela vaga no Desfile das Campeãs. “Se conquistarmos a arquibancada, vamos disputar um lugar entre as seis”, acredita.

Como surgiu a ideia de usar duas músicas de Luiz Carlos da Vila para o desfile da Viradouro?

Eu já tinha a ideia de fazer um enredo com a letra de “Nas veias do Brasil” desde 2011. Seria com uma disputa de samba normal, com os compositores da escola. Não fizemos no Grupo de Acesso e, quando subimos, apareceram vários enredos patrocinados. Mas pensamos que seria melhor fazer este enredo. Mostrávamos a música para as pessoas e elas diziam: “você está maluco, esse é o samba da Viradouro”. Fui na Liesa perguntar se era possível e a autorização foi dada. Certa noite, estávamos conversando e surgiu a ideia de colocar os quatro versos de “Um dia de graça” para dar mais substância ao samba. A parte da letra complementa perfeitamente e a melodia veio normalmente. A  editora das músicas aprovou e todos os direitos foram para os herdeiros do Luiz Carlos da Vila. Na verdade é uma música de meio de ano, mas com toda estrutura de um samba-enredo.  É uma melodia com força, muito aguerrida, que explode em nossos ensaios.

Você acha que o que a Viradouro fez se tornará tendência?

Acho que não. A gente sabia que seria uma inovação, mas não acredito que seja algo que vire regra. A gente deu abertura para as outras escolas fazerem a mesma coisa, mas, ao contrário  das reedições, que viraram regra, não acredito que seja imitado. Até porque não é tão simples assim adaptar músicas de repertório de meio de ano para o samba-enredo.

Como a ala de compositores reagiu?

Posso falar de cadeira, porque sou compositor. Se fosse comigo, ficaria chateado (risos). A disputa de samba é uma cachaça, a gente fica ansioso para fazer um samba. Além do pessoal que colocou samba no Grupo de Acesso e esperava a chance de ganhar no Especial e ter um retorno financeiro. Mas todos foram muito receptivos. Antes de anunciar a decisão, fiz uma reunião com a ala dos compositores. Cantei o samba e eles se arrepiaram. Expliquei a eles que, nesse momento, precisávamos de um samba que emocione e de um samba que garanta a nota 10. Estou vendo o lado do administrador da escola e investindo nos quesitos. Quando mostrei a música para o João Vitor, ele adorou e já começou a ter ideias. Entreguei ao Milton Cunha a responsabilidade de fazer o enredo, com pesquisa do Sílvio Albuquerque, uma das pessoas que mais entende de negritude. Com isso, já tenho samba-enredo, enredo, bateria,  além de harmonia e evolução, que a Viradouro sempre teve. Com o trabalho do João, que está espetacular, tenho certeza de que ganharemos boas notas em alegorias e fantasias.

O samba é o grande trunfo?

Sem dúvidas. Tanto que estamos vencendo a maior parte das enquetes. Luiz Carlos, lá em cima, deve estar muito feliz. O rendimento do samba nos ensaios é muito forte. É um samba que emociona.

Por outro lado, a escola optou por manter o mesmo time que subiu…

Mais ou menos. Eu trouxe o Sérgio Lobato, que foi coreógrafo na época do Paulo Barros. Conheço seu trabalho e ele gosta da escola. É importante ter um profissional que goste da escola e se sinta bem aqui. O Zé Paulo foi uma grande aposta para o Especial. Ele já está com contrato assinado com a gente para o ano que vem. É um cantor de ponta, que estava escondido na Mangueira. O casal é uma surpresa muito agradável: a Alessandra foi revelada na Viradouro, mas nunca tinha sido primeira porta-bandeira aqui. E, quando a trouxe, contratei o Ronaldinho, que já não estava bem de saúde. E, antes dele falecer, me disse que, caso não conseguisse desfilar, para efetivar o Marlon, que era o segundo. Assim foi feito e o entrosamento deles é perfeito.  Nos dois últimos anos, eles só tiraram 10. Não tenho como pensar em colocar outro casal. O João Vitor foi artisticamente perfeito no ano passado e tenho total confiança em seu trabalho.

Uma novidade é a comissão de bateria.

Nem é uma inovação. A Beija-Flor tem o Plínio e o Rodney e nós, apesar de termos seis mestres, teremos o Magrão e o Herinho à frente dos ritmistas. Mas todos têm o mesmo poder. A bateria está muito forte, com muita gente que estava afastada voltando. Não fiz nada demais: apenas resolvi promover os diretores, mantendo a mesma essência e característica da escola. Só se mexeu um pouco na afinação do surdo e o andamento, que está um pouco mais lento.

Qual o objetivo da escola? Ficar no Grupo Especial ou já pensar em classificações mais altas?

Estamos com um carnaval muito forte. Como falei, estou apostando nesses cinco quesitos (bateria, samba-enredo, enredo, harmonia e evolução). Vamos apostar na emoção. Se conquistarmos a arquibancada, vamos entrar na briga pelo sábado. O objetivo é pensar alto. O carnaval tá grande, as fantasias estão muito bonitas. A escola vem com sete carros, sendo um acoplado, além de três tripés. Um carnaval gigante, de impacto e com muita emoção. Espero que tudo dê certo na avenida e que caiamos nas graças dos jurados, público e imprensa. Quando você agrada a todo mundo, é mais difícil do jurado pesar a caneta.

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